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Lá nos anos setenta

Num lugar que já esqueci

Na Couro de Porco será

Ou na Arrojelândia

Já não sei em que dia

Ocorreu o seguinte:

Com danada poeira

Perto já do por do sol

A janta preparada

Toda a rapaziada

Jogando futebol.

Com danado barulho

Surgiu pela pista

Um/O fantasma do Cerrado

Gordo e barrigudo:

Uma baita besta.

A nuvem de fumaça

Que do rabo saia

Fez sumir todo o povo

Da criança ao avó

O correntino fugia.

Com infernal silêncio

Com a rua deserta

As portas bem fechadas

As bocas bem caladas

Parou aquela besta.

Que barriga mais verde!

Que pernas redondas!

Que cheiro mais danado!

Que olho mais gordo!

Que orelhas quadradas!

Assim falava assustado

Em voz baixa o povo

A nossa hora chegou

A morte mesma veio

A levar velho e novo.

Para sorpresa de todos

Abriu-se a cabeça

Daquela grande fera

E um rapaz descera

Com olhar cheio de graça.

“Oi das casas !”, ele gritou

Mas ninguém se animou

A mostrar seu nariz

Só uma moça lhe diz

O que era aquilo?

Essa bicha, meus amigos

Dela não se assustam.

De tanto comer banana

Ficou ela tão gordinha,

Que não come mais gente.

Mais não deixem aquela

Sem a fruta amarela.

Sem banana ela pode

Comer cristão ou bode

Assim é a sua gula.

Desse jeito falava

Abusando dos ingénuos

O caminhoneiro malvado

O bandido graúdo

Na procura de bons ganhos.

Desse lado do mundo

Nunca se tinha visto

Nem caminhão nem carro

De cavalo ou de burro

Se viajava, e pronto!

Com as pernas tremendo

Saiu do brejo um homem

Com um cacho de banana

“E pra amiga grandona

Botar no seu abdómen”.

O Vilão abriu o capô

E no motor jogou o cacho.

As bananas esquentadas

Pelos ferros ardentes

Viravam para a cor roxa.

A bananada no capô

Uma vez completada

Diz para rapaziada:

Olha que essa doida

Ela tem fome ainda.

Mas por boa fortuna

Ela tem grandes costas

E gosta para a jantinha

Comer muita bananinha

Tragam suas colheitas.

E assim foi que o povo

Tragou todas as raças:

Prata, nanica, marmelo

Ouro, figo e da terra

Até banana-maçã!

E assim, foi embora

Com os pneus esmagados

De tanta fruta carregada

A fera tão temida

Por aqueles coitados.

Por meses ele voltou

Aquele sem-vergonha

Abusando do medo

Do povo do Arrojado

Que na ignorância tinha.

Mas um dia Deus quiz

Levar até Cor de Porco

Um outro comerciante

Não era bandeirante

Chegou pelo barranco.

Num caminhão amarelo

Ele entendeu na hora

Com quem ia comerciar

Mais não quiz trapacear

Por ter ele muita honra.

Seu animal, lhes explicou

Era borracha e ferro

Não pensava nem sentia

Só gasolina bebia

Não era nada bizarro.

Também carregou a fruta

O comerciante legal

Mas pagou com moeda

Por toda a bananada

E pra surpresa geral.

Ninguém lembra o destino

Do vilão motorizado

Nunca mais apareceu

Nem, graças ao Céu

Deixou alguém enganado.

Alguns dizem, sem certeza

Que o devorou o caminhão

Por falta de banana

Virou uma suçuarana

E engoliu seu patrão.